Confiar? No Governo?

A credibilidade do Governo Brasileiro é frequentemente questionada, tanto nacional quanto internacionalmente… Isso não é novidade alguma. Em diversas ocasiões, os representantes do povo frequentemente demonstram falta de transparência e compromisso com a verdade — seja arredondando certos números de uma forma muito otimista, seja reduzindo a importância de um problema, em alguns casos criado pelo próprio poder público.

Nos últimos anos, uma gestão em particular tem se destacado por sua baixa confiabilidade e inconsistências na comunicação. Falamos, é claro, do Governo Lula. Até então, isso não é novidade alguma. Em 2009, diante da crise econômica que assolava o mundo todo, o ex-metalúrgico afirmou que seria somente uma “marolinha” — um erro de cálculo que contribuiu para sete anos de estagnação econômica e desemprego.

Isso se nós presumirmos que Lula agiu por ignorância. Se fôssemos mencionar, então, os diversos escândalos que marcaram os outros mandatos do Partido dos Trabalhadores, o artigo ficaria demasiadamente massante.

Por mais que até o presente momento nenhum escândalo ocorrido na atual legislatura tenha vindo a tona (e, honestamente, parece-nos inevitável que alguma coisa venha a tona, seja durante, seja depois dos próximos dois anos), o Governo Brasileiro já não consegue manter controle sobre o que divulga, de modo que toda a sua credibilidade foi completamente perdida.

Recentemente, durante uma entrevista à CNN Brasil, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre a situação no contexto da chamada crise do Pix, gerada pela divulgação de uma decisão normativa que indicaria que toda transação que passasse de R$5 mil seria notificada à Receita Federal. O ministro afirmou que as notícias falsas em relação ao ocorrido tinham afetado a credibilidade da decisão e que os autônomos não seriam taxados. Como tem sido frequente, Haddad atribuiu a situação ao governo anterior.

Nesse ponto, o ministro estava correto. Em momento algum a pasta ou a Receita Federal divulgou que iria explicitamente taxar todas as transações acima de R$5 mil. No entanto, existem motivos bem concretos pelos quais a população teve medo da decisão – isso tomando como exemplo outras situações dentro da própria atual legislatura de Lula.

Em 2023, Haddad afirmou para toda a imprensa que “voltaria atrás” e que a “isenção de importação de até 50 dólares não vai deixar de existir”.[1] Pouco tempo depois, a promessa foi descumprida. No dia 1º de agosto de 2024, um projeto de lei foi sancionado pelo presidente que acabou com a isenção previamente mencionada – aplicando um imposto de 20% sobre mercadorias importadas.[2]

Durante sua campanha, Lula afirmou que, caso eleito, iria acabar com o sigilo de 100 anos do cartão corporativo. Após eleito, o presidente não apenas manteve o sigilo, mas aumentou os gastos com o cartão corporativo em comparação com o governo anterior.[3]

Tratando-se de promessas de campanha, em sua grande maioria paliativos para problemas sociais e econômicos complexos (e que parecem além da compreensão do presidente e de seus ministros), Lula cumpriu cerca de 28% delas – isso na metade de seu mandato.[4] O que pode até mesmo ser uma notícia boa, pois entre falta de desenvolvimento e falta de desenvolvimento com gastos excessivos em assistencialismo barato, cremos que a primeira opção seja a mais oportuna.

Em resumo, a insatisfação e as críticas recentes não podem ser atribuídas apenas a notícias falsas ou ao governo anterior. Elas são o reflexo de medidas inoportunas e promessas não cumpridas, agravadas por um cenário social e econômico estagnado. Tudo isso em um cenário social e econômico genuinamente medíocre. Sem a presença de fatores externos como uma pandemia, o governo atual recorre a boa e velha polarização para justificar sua incapacidade de concretizar qualquer mudança significativa.

Autor: João Guilherme.

Notas:

[1] InfoMoney. Governo recua, e Haddad diz que manterá isenção de impostos em encomendas internacionais. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/consumo/taxacao-shein-shopee-governo-recua-haddad-isencao-imposto-importacao-compras-internacionais/.

[2] G1. Calculadora do g1 mostra como ficam os preços das compras internacionais de US$ 50. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2024/06/27/calculadora-do-g1-mostra-como-ficam-os-precos-das-compras-internacionais-de-us-50.ghtml.

[3] Diário do Poder. Lula eleva gastos ocultos e mantém sigilo de 100 anos do cartão corporativo. Disponível em: https://diariodopoder.com.br/brasil-e-regioes/e07-brasil/lula-eleva-gastos-ocultos-e-mantem-sigilo-de-100-anos-do-cartao-corporativo.

[4] Gazeta do Povo. Lula chega à metade do mandato com 28% das promessas cumpridas. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/lula-metade-mandato-28-promessas-cumpridas/.

Postagens relacionadas

Deixe um comentário