Trump e Fascismo

O clima das eleições americanas do dia 5 de novembro de 2024 foi muito mais turbulento que o das anteriores. Considerada uma das eleições mais importantes dos últimos tempos, toda a esquerda se uniu para combater o candidato Donald Trump e seu movimento MAGA. Como um candidato antiestablishment, toda a imprensa marrom foi ao ataque contra o candidato do GOP. Repetindo a clássica e já carcomida ordem do antigo Comintern, fica mais evidente de que o famoso empresário nova-iorquino seria taxado de “fascista”.

A famosa enciclopédia Wikipédia até mesmo chegou a publicar um artigo extremamente enviesado sobre Trump, recolhendo diversas opiniões vazias de muitas figuras, desde intelectuais até pessoas que participaram do primeiro mandato trumpista. A credibilidade da tal enciclopédia sempre foi questionada e é um site que pode ser considerado como extremamente enviesado. A mais fascinante peça difamatória publicada contra o candidato republicano com certeza foi uma série de artigos publicada pelo The New Republic intitulada “What American Fascism Would Look Like”. Diversos autores tentam em oito artigos prever como será o segundo mandato de Donald Trump, sendo basicamente uma peça fantasiosa de ficção política.

É algo de se impressionar o teor absolutamente fictício dos artigos: perseguições políticas, a destruição completa da liberdade de imprensa, antiintelectualismo, destruição de livros, etc. A completa destruição da América como conhecemos, a terra onde a liberal-democracia mais resplandece de “sucessos” e “vitórias”. De forma pouco surpreendente, nada previsto nos tais artigos tem base em alguma ação ou promessa feita por Trump. A mídia americana parece ter esquecido que o “líder fascista” da América já chegou a governar por quatro anos o país dos ianques. Nenhuma ditadura fascista foi instaurada, muito pelo contrário. O país continuou gozando do status de liberal-democracia pujante, mesmo estando sobre uma “constante ameaça” invisível.

Não é necessário muito esforço para saber que nada tem de “fascista” o movimento MAGA. É razoável afirmar que certas figuras que poderiam ser consideradas “fascistas” fazem parte do fenômeno, como Nick Fuentes e seus groypers, o integrismo católico de J.D. Vance e a influência de Curtis Yarvin presente em seu repertório político. Porém, seria necessário abstrair qualquer sentido da palavra “fascista” para incluir pensamentos tão diversos sob o mesmo guarda-chuva. O movimento MAGA não tem qualquer intenção de instaurar qualquer Estado Corporativo, uma das principais causas da ideologia fascista. Sem Estado Corporativo, não pode haver Estado Fascista. A. James Gregor também aponta diferenças essenciais entre o Fascismo e o Populismo de Donald Trump:

“Basta ler a literatura doutrinária fascista do período para reconhecer a fonte da diferença. Os fascistas aspiravam ao controlo totalitário do seu exigente ambiente de desenvolvimento durante um período previsto medido em décadas. O populismo de Trump procura vencer as próximas eleições. Seu horizonte de tempo é medido em meses. Quase todos os seus efeitos tangíveis serão transitórios e quase inteiramente remediável pelo seu sucessor. Que qualquer um deveria encontrar uma semelhança instrutiva entre os dois sistemas só poderia contar como evidência de preconceito.”[1]

A série de artigos do The New Republic impressiona pela falta de análise crítica e extrema presunção. Em momento algum os autores parecem interessados em realmente estudar um suposto Fascismo presente no pensamento político do movimento MAGA e de seus representantes, se mostrando apenas obcecados em criar uma realidade de nós contra eles, onde estes (a grande mídia e os movimentos de esquerda), são os grandes iluminados perseguidos por uma corja irracional, irrascível e intrinsecamente má.

A grande questão é que o vocábulo “Fascismo” já não tem mais o mesmo peso que tinha antes. Tornou-se um insulto vazio em que todos se acostumaram. Toda a esquerda se uniu para taxar Trump de “fascista”, o que não surtiu nenhum efeito. Ironicamente, na supracitada série de artigos, a previsão era de que Trump falharia em vencer o voto popular novamente, repetindo o que aconteceu em 2016. Algo que impressionantemente não aconteceu. O candidato foi um dos primeiros republicanos a conquistar o voto popular desde 2004.[2]

Foi a prova viva de que o povo não se importa com palavras vazias, balbuciadas por meia dúzia de jornalistas evidentemente vendidos à uma agenda política. Tudo isso só se dá pelo fato de Trump se colocar como uma alternativa ao infame establishment, ao qual a imprensa marrom se beneficia de formas avassaladoras, influenciando a opinião pública para garantir seus próprios interesses. Jornais como o The New Republic não se importam com “democracia”, com o povo ou com qualquer causa essencialmente honesta. Se preocupam com cliques, visualizações e fama. A democracia não se encontra ameaçada pela decisão autônoma do povo em eleger seu representante: é ameaçada justamente por esses jornais inescrupulosos voltados ao lucro.

Donald Trump irá assumir, para o desgosto de muitos, a presidência dos Estados Unidos mais uma vez. Existem muitas críticas que se podem fazer, principalmente ao seu mais do que claro sionismo. Porém, é mais do que claro que não haverá uma ascensão de um “Fascismo à moda ianque”. Serão tempos de menos intervencionismo na política internacional, talvez o retorno das Trump tariffs e um Nacionalismo Americano forte, mesmo que não revolucionário. É necessário manter o senso crítico e ver Trump como um político ainda liberal-democrático, sem qualquer intenção de instaurar uma verdadeira democracia. No entanto, é inegável que o republicano representa uma nova guinada do mundo. Provavelmente, o fim da hegemonia esquerdista, o início de uma tendência anti-identitária e a procura de novas alternativas à caduca liberal-democracia.

A imprensa terá que arrumar outro insulto tão impactante quanto o “Fascismo” foi. Atualmente, não significa mais nada, não importa e o único sentimento que a palavra desperta é a indiferença. Se defender o certo é “Fascismo”, então talvez não seja o povo quem deva rever os seus conceitos, mas a mídia que deve aprender o impacto que ela mesmo tem. No final das contas, a mentira destrói a si mesma.

Autor: J.M.

Notas:

[1] GREGOR, A. James. Donald J. Trump, Fascism, and Populism. Disponível em: https://ilpensierostorico.com/wp-content/uploads/2020/09/IPS-n°-VI-pagine-37-43.pdf.

[2] JACHIM, N. When was the last time the Republican Party won the popular vote? Disponível em: https://thehill.com/homenews/nexstar_media_wire/4976301-when-was-the-last-time-the-republican-party-won-the-popular-vote/.

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Um comentário em “Trump e Fascismo”

  1. Anônimo

    “O movimento MAGA não tem qualquer intenção de instaurar qualquer Estado Corporativo, uma das principais causas da ideologia fascista.”

    A verdade é que o conceito de “Corporativismo”, “Corporação” e, por consequência, “Estado Corporativo” foi completamente desvirtuado no mundo de língua inglesa, a maioria não tem noção do que isso realmente significa.

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