Sargento Hermínio Sampaio: Do Sertão Cearense ao Monte Castello

Todo fortalezense, ou habitante na capital cearense, já deve ter ouvido falar no nome do Sargento Hermínio Sampaio. Milhares de cidadãos da “Terra do Sol” devem conhecê-lo devido a linha de ônibus e avenida que levam o nome do bravo infante, porém pouquíssimas pessoas conhecem sua história, seus feitos e sua bravura na Segunda Guerra Mundial. A cidade de Fortaleza ainda leva consigo as reminiscências da última guerra em que esteve envolvido. O obelisco erguido em frente a Faculdade de Direito, e os bairros Montese e Monte Castelo, são exemplos disso, e partes da memória coletiva e da história da cidade.

Foi na cidade de Crateús, vizinha ao Piauí, município de grande destaque pela produção e comercialização de produtos rurais, e importantíssimo polo populacional, cultural e econômico daquela região, que nasceu em 12 de junho de 1908, Hermínio Aurélio Sampaio, filho de Antônio Aurélio Sampaio e Josefina Alves Sampaio.

Em 02 de janeiro de 1930, sentou praça como soldado no 1º Regimento de Infantaria, também conhecido como Regimento Sampaio. Residente em Engenho Novo, Rio de Janeiro, casou-se com Sebastiana Amieiro, com quem teve dois filhos. No decorrer da década de 1930, foi licenciado cabo, e em 07 de dezembro de 1937, foi posto para a reserva do exército e promovido a 3º Sargento, sendo reservista de 1ª categoria. O seu período como reservista não durou muito tempo.

A partir de fevereiro de 1942, a Marinha Mercante do Brasil passou a ser alvo dos submarinos alemães, e nas águas do Atlântico Sul seguiu-se uma série de agressivos torpedeamentos. As perdas em vidas e em recursos eram inestimáveis. Em agosto de 1942, os torpedeamentos se intensificaram entre as águas de Sergipe e Bahia, e em 48 horas, o submarino U-507 ceifou mais de 600 vidas. A população brasileira revoltosa foi às ruas em protesto exigindo o Estado de Guerra, que foi finalmente declarado na manhã do dia 22 de agosto de 1942.

Atendendo ao chamado da Pátria e do dever militar, apresentou-se em 21 de maio de 1943, e ainda no período de treinamento no Brasil, foi promovido a 2º Sargento, auxiliar do 2º Pelotão da 4ª Companhia do Regimento Sampaio, com o qual partiu junto ao 2º escalão, em 22 de setembro de 1944, à guerra.

Após o navio General Mann chegar ao porto de Nápoles, em 06 de outubro, partiu para o acampamento mais próximo ao front para instruções e treinamento militar avançado com equipamento americano. Em solo italiano, o 2º Sargento Hermínio Sampaio demonstrou ser um hábil auxiliar de seu comandante de pelotão. Dedicado, eficiente e organizado, contribuiu eficazmente no trabalho de recebimento dos equipamentos e material bélico em Tenuta de San Rossore, e em Filétole, nos últimos treinamentos e aperfeiçoamentos realizados antes de entrarem em ação no campo de batalha. Trabalhando incansavelmente em benefício de seu pelotão, logo conquistou o respeito de seus oficiais superiores e a camaradagem de seus soldados.

Sargento Hermínio Sampaio

Na madrugada do dia 12 de dezembro de 1944, nos preparativos para a quarta tentativa de tomar a cota 977, também chamada de Monte Castello, inúmeros pelotões partiram na execução de patrulhas de reconhecimento por todo o perímetro do campo de batalha. O clima era frio e úmido. A lama se confundia com a neblina, que logo se tornaria neve. Tomar Monte Castello era essencial para uma ofensiva aliada em direção a Bolonha e ao Vale do Pó, antes do inverno cair sobre a Europa. A missão era delicada e crucial para o teatro de operações na Itália. Entre os pelotões envolvidos nas missões de reconhecimento, se encontrava preparado o pelotão do Tenente Gallotti, tendo como seu subcomandante o Sargento Hermínio Sampaio.

A patrulha se deslocou até os pontos designados pela 4ª Cia do Regimento Sampaio, e mesmo sob intensa barragem de artilharia e morteiros, o pelotão de Gallotti atingiu todos os objetivos destacados na missão. Eis que, em meio ao fragor do combate entre os homens do Regimento Sampaio e das forças de defesa que guarneciam o Monte Castello, o comandante do pelotão, Tenente Gallotti, foi severamente atingido e foi incapacitado de continuar à frente de seus homens. Foi nesse momento que, pelo imperativo de dever e senso de responsabilidade diante da missão, do seu comandante e de seus homens, Sargento Hermínio assumiu o comando firme e decidido, bradando aos soldados da 4ª Cia:

– Homens, precisamos avançar! Venham comigo!

Confiantes em seu sargento, os soldados do 1º RI seguiram o infante aguerrido, conquistando ainda alguns metros de terreno. Os alemães, ao perceberem a tenaz penetração das forças brasileiras em suas linhas, lançaram uma fortíssima salva de morteiros na posição do pelotão de Sampaio, onde os tedescos ainda intensificaram sua fuzilaria e fogo de metralhadoras. Sampaio logo mandou que seus homens se espalhassem e buscassem cobertura. No meio de todo o caos instaurado em plena frente de batalha, os homens deram cobertura enquanto o bravo sargento chamou o soldado que tinha posse de um fuzil-metralhadora BAR M1918. No momento em que preparava a posição para fixar a arma e fazer fogo contra os adversários alemães, foi mortalmente atingido por uma rajada de metralhadora alemã.

A violência dos combates entre as patrulhas brasileiras contra as posições alemãs nas cercanias de Monte Castello, entre as madrugadas dos dias 11 e 12 de dezembro de 1944, seria apenas o prenúncio do brutal combate que se desenrolou por todo o dia e a tarde daquele fatídico 12 de dezembro. Homens do bravo e tradicional Regimento Sampaio chegaram a alcançar o cume da cobiçada cota 977, mas foram logo neutralizados por um forte contra-ataque alemão.

O corajoso 2º Sargento Hermínio Aurélio Sampaio foi a segunda baixa fatal das armas cearenses envolvidas na guerra. Permaneceu insepulto por todo o inverno de 1944, tendo seu corpo sido resgatado apenas após o sucesso da Operação Encore, que finalmente conseguiu tomar de assalto o Monte Castello e suas linhas de defesa ao flanco com o apoio do Vº Exército Americano e envolvimento de toda a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária Brasileira. Após ser resgatado, foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia e, posteriormente, teve seus restos mortais transladados para o Monumento aos Brasileiros Mortos na Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Foi promovido post-mortem a 1º Sargento, e agraciado com a Medalha de Campanha, Medalha Sangue do Brasil e Cruz de Combate.

No Ceará, e em todo o Brasil, o infante cearense foi reconhecido como herói da batalha de Monte Castello. Hoje, o seu nome batiza ruas, avenidas e praças, em vários pontos do país. Em Crateús, sua cidade natal, seu nome é prestigiado como um de seus filhos ilustres que abrilhantaram e honraram a bravura do homem do sertão cearense através do sacrifício de sangue que fez em defesa da honra nacional e da vitória das armas brasileiras na Segunda Guerra Mundial.

Autor: Carlos Ribeiro, colunista e correspondente da Nova Acção no Ceará.

Este artigo faz parte da série Os Militares do Brasil, especial da Nova Acção.

Referências:

Projeto Dicionário das Ruas de Fortaleza.

Revista do IGHMB – ANO 84 – nº116 – 1ºsem – pág 122

Portal Sertões. 80 anos da morte de Sargento Hermínio. Disponível em: https://www.portalsertoes.com/2024/12/80-anos-da-morte-de-sargento-herminio.html.

Cronologia Ilustrada de Fortaleza.

XIMENES, Raimundo Nonato. De Pirocaia a Montese: Fragmentos Históricos. Fortaleza: 2004. p. 388.

Postagens relacionadas

Deixe um comentário