Carnavalização da Realidade

O momento atual do Brasil e do mundo contemporâneo é de extrema inquietude frente aos graves problemas os quais essa geração não está preparada em sua maturidade para enfrentar. Desde o início da década, estivemos participando de um panorama sombrio da história de nosso país e da humanidade. Veio a pandemia da COVID-19, guerras, graves crises políticas e diplomáticas, disputas ideológicas… O mundo, principalmente o Ocidente, viu-se, e ainda se vê, rendido a políticas materialistas, antinacionais e anticristãs impostas por organizações estrangeiras com grandes poderes financeiros e midiáticos capazes de tolher os caminhos dos povos e das nações.

O Brasil, assim como inúmeras nações da Europa Ocidental e da América também se vê rendido a esse panorama lastimável: um poder, um regime, um presidente que não são representativos do povo brasileiro; uma Nação mergulhada em uma corrupção generalizada que se alastra do meio político até o meio dito “intelectual”, meio esse responsável pela formação educacional de milhões de jovens, futuros do Brasil e do mundo; um povo sem representantes legítimos, mas sim marionetes, desonestos, canalhas, cínicos e debochados que nas altas rodas da elite política e social burguesa do país se banqueteiam complacentes com a miséria, fome e agonia de milhões de brasileiros que trabalham para sobreviver de forma desumana muitas vezes. Agora, diante de tudo isso, vos pergunto: o que há para ser comemorado?

Escrevo essas linhas na noite do domingo de carnaval. Do quarto de minha residência, ouço músicas de péssima qualidade vindo da rua e creio que nesse momento é essa a realidade em todo o país. Milhares — se não milhões — de brasileiros festejando sem nenhuma responsabilidade e pudor, tudo isso regado com o alto consumo de entorpecentes, álcool, sexo e promiscuidade. E quem mais protagoniza tudo isso é simplesmente o cidadão comum do nosso país, que todo dia é explorado pelo sistema que lhe tira todos os seus ganhos com o alto preço dos impostos, taxas, preço dos combustíveis e da alimentação, para depois esse mesmo regime hipócrita lhe “dar” um carnaval “pago pelo governo” para que o folião possa se entorpecer cada vez mais do velho pão e circo.

Quando vejo a situação do nosso país e do mundo, fico me perguntando: o que esse povo comemora tanto? Sei que é um traço inigualável do povo brasileiro o seu jeito carismático, receptivo e bem humorado. Portanto, novamente pergunto: o que há para ser tão comemorado? As crianças das favelas e do subúrbio estão saindo das vistas do crime? Os jovens estão tendo acesso à educação de qualidade e a uma cultura genuinamente brasileira? O salário do trabalhador aumentou, ou o aumento foi só no bolso dos políticos, a exemplo do que acaba de acontecer na Assembleia Legislativa do Ceará? O cidadão brasileiro já parou de ser atacado, humilhado, roubado, assassinado e oprimido pelo crime organizado? O nosso país é respeitado lá fora? A nossa cultura e nossa história são realmente valorizados? Valorizamos nossos grandes antepassados e heróis nacionais? Realizamos uma justiça social eficiente em nosso país? A juventude parou de ser sufocada por ideologias materialistas e destrutivas da personalidade humana? O brasileiro tem seus direitos básicos realmente assegurados? Os direitos humanos realmente estão servindo para amparar as famílias de bem desse país? O trabalhador já parou de ser humilhado e pisoteado pelo mesmo regime que o diz defender? O trabalhador recebe o suficiente para sustentar sua família com dignidade e tem algum tempo de lazer com sua esposa e filhos? Enfim, são tantas as perguntas para as quais já sabemos todas as respostas! A juventude continua sendo aliciada pelas drogas, pelo crime, pela pornografia e ideologias terríveis. Os políticos cinicamente aumentam ainda mais milhares de reais ao seus salários já na casa das dezenas de milhares de reais enquanto o trabalhador recebe, na maioria das vezes, um miserável salário mínimo, trabalhando em uma escala que o explora até o esgotamento de suas energias físicas e emocionais. Quando olhamos para o panorama político, vemos o povo brasileiro se digladiando na defesa de um corrupto e cínico que prometeu picanha e está dando jejum aos seus eleitores, e do outro lado, um falso patriota e covarde, que bate continência para as bandeiras imperialistas dos Estados Unidos e do Estado de Israel, e que no final das contas deixou os seus próprios eleitores serem presos sumariamente enquanto fugia para os braços do Tio Sam buscando socorro e abrigo. Enquanto toda essa miséria toma conta do Brasil do nosso tempo, o mundo se vê diante de mais um possível conflito mundial.

Não há nada a ser comemorado, vos digo! Não importa nem um pouco o parecer daqueles que dirão que é uma opinião antiquada, rústica, careta, algo parecido. Críticas que não devem ser levadas em conta, pois são tão vazias quanto essas próprias comemorações do carnaval deste ano assim como foram os demais carnavais passados. Comemorações vazias! As gargalhadas e extravasamentos daqueles que agora estão no meio desse mundo tão empenhado em destruir-se, são em sua tradução mais fiel, a exteriorização do desespero daqueles que não tem mais fé e nem esperança, seja na religiosidade, seja nos grandes e elevados ideais construtores de homens e mulheres de força e determinação. E assim, em pré-carnavais, carnavais e carnavais fora de época, vamos banalizando toda a realidade na qual vivemos para vivermos de uma fantasia incessante onde bandido é inocente e ladrão se torna até Presidente…

Autor: Carlos Ribeiro, colunista e correspondente da Nova Acção no Ceará.

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Um comentário em “Carnavalização da Realidade”

  1. D. Augusto

    Excelente matéria, como sempre!

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