Uma manifestação gigantesca tomava as ruas adjacentes ao Palácio do Catete, e o cercava. Manifestações similares ocorreram em todo o pais. Era manhã do dia 22 de agosto de 1942, e há dias o povo havia paralisado o país exigindo a entrada do Brasil na guerra, principalmente, após o torpedeamento do Baependi e de outras embarcações consecutivamente, resultando em mais de 600 mortos. A população lotava as principais ruas e praças em todo o país. Eis que no meio da multidão através dos alto-falantes dos postes das ruas e praças, sonoramente vibrou o prefixo do Repórter ESSO, e a tão esperada notícia:
Informa o Repórter ESSO em edição extraordinária! E atenção, atenção! Rio! O Brasil acaba de declarar guerra às potencias do Eixo. O Presidente Vargas determina a convocação de reservistas para a formação das Forças Expedicionárias Brasileiras. Informou o Repórter ESSO, testemunha ocular da história.
A multidão foi ao delírio! O povo extasiado pela notícia que acabara de ouvir entoavam “Vivas!” a Getúlio Vargas e as Nações Aliadas. Imediatamente multidões de jovens pelo país se apresentaram aos postos de alistamento e recrutamento mais próximos, e as moças foram logo apresentar-se para servirem como enfermeiras na retaguarda dos futuros combates, e outras para servirem nas campanhas de venda de bônus de guerra à favor da causa aliada.
Entre inúmeros jovens brasileiros, na maioria estudantes, acadêmicos, operários, sertanejos; moços do campo e da cidade, de norte a sul do Brasil, tendo a maioria entre 18 a 22 anos, que se apresentaram como voluntários, surgiu novamente desejando servir ao seu país, o experimentado combatente do Exército Brasileiro, o Sargento Max Wolff Filho. Veterano da Revolução de 1930, da Guerra Constitucionalista de 1932, do sufocamento da Intentona Comunista de 1935, e do Levante de 11 de maio de 1938, também conhecido como “Levante Integralista” e “Revolução de 1938”, Max Wolff novamente diante da face da guerra, vendo sua nação mobilizando-se para um dos momentos mais desafiadores de sua vida-pátria no século, mais uma vez se dispôs ao cumprimento do seu dever como bom militar e bom brasileiro. Seu sentimento patriótico mais uma vez falou mais alto, e sensibilizado em ver as fotos nos jornais dos corpos de crianças, mulheres e marujos, que chegavam as praias, vítimas dos vis torpedeamentos a Marinha Mercante, sentiu o imperativo do dever e da responsabilidade em defender a dignidade e a honra nacional ofendida pelos submarinos alemães.
Max Wolff Filho nasceu em 29 de julho de 1911, em Rio Negro, Paraná, tendo como seus pais o Sr. Max Wolff e Dª. Etelvina Pacheco Wolff. Em sua meninice vivenciou um período conturbado em sua terra natal devido a Guerra do Contestado, que se arrastou de 1912 a 1917. Também era uma época de guerra mundial, e o Brasil também sofreu efeitos daquele conflito. Aos cinco anos iniciou os seus estudos na escola de Rio Negro, e aos 11 anos já era o principal auxiliar de seu pai no trabalho de moagem e torrefação de café. Ao completar 16 anos de idade, Max e sua família se mudaram para São Mateus do Sul. Nessa cidade, o jovem Max Wolff trabalhou como escriturário de uma companhia de navegação que operava no Rio Iguaçu. Sendo um rapaz de bom vigor físico e amigo dos operários da companhia, os ajudava nas horas vagas ensacando erva mate para embarcar nos navios. Já ao completar os seus 18 anos, a família mudou-se novamente para a capital do Estado do Paraná, Curitiba. Seria ali que Max Wolff teria o seu primeiro contato com a vida militar, sentando praça no 15º Batalhão de Caçadores, no início de 1930.
Naquele período o Brasil passava por um clima de inquietude e revolução, nada tão diferente das décadas anteriores que se seguiram à queda do Império. Logo após concluir o seu período no campo básico no 15º BC, em março de 1930, o paulista Júlio Prestes foi eleito presidente da república, quebrando a velha e histórica aliança com Minas Gerais pelo poder federal. Nesse contexto, Minas Gerais apoiou o candidato da oposição, Getúlio Vargas, e assim teve início um movimento revolucionário em todo o país com a intenção de derrubar Prestes, impedindo-o de exercer o mandato. Em 05 de outubro daquele conturbado ano de 1930, o governador do Paraná foi deposto após perder o apoio dos militares, e o General da Reserva Mário Tourinho alinhou as forças que dispunha à favor de Getúlio Vargas. Dessa forma, o Soldado Max Wolff Filho tomou parte na Revolução de 1930, movimento esse que levou Getúlio Vargas a presidência do Brasil, em 03 de novembro de 1930.
Em 1931, promovido a Cabo, Max Wolff foi transferido para a 1ª Companhia, do 3º Regimento de Infantaria, no Rio de Janeiro, então capital federal da república. A partir de janeiro de 1932, o então capitão Euclides Zenóbio da Costa assumiu o comando da 1ª Cia. Dali por diante, o Cabo Wolff e o Capitão Zenóbio firmariam uma longa amizade no decorrer dos anos. Em 09 de julho daquele ano turbulento, surgiu mais uma movimentação revolucionária que deu início a Guerra Constitucionalista de 1932. O Rio de Janeiro mobilizou tropas federais contra os revolucionários, e sob o comando do Capitão Zenóbio da Costa, a 1ª Cia e Max Wolff, marcharam para o combate. Nos confrontos que se seguiram nas cercanias de Itatiaia, onde os revolucionários realizaram seu primeiro recuo estratégico; no cerco a cidade de Cruzeiro, na ofensiva do governo federal, Max esteve envolvido nos combates, até ser severamente ferido por um disparo de fuzil que transpassou seu ombro, em setembro de 1932. Por seu desempenho e coragem nos confrontos na Guerra de 1932, Max Wolff Filho foi promovido a 3º Sargento, aos seus 21 anos de idade.
Dois anos após a Revolução Constitucionalista, Zenóbio da Costa após sua promoção a Major, foi designado para criar a Polícia Municipal do Rio de Janeiro, e com essa importante missão em suas mãos, buscou homens de sua total confiança para compor os quadros dessa nova unidade militar. Entre esses homens estava o 3º Sargento Max Wolff Filho.
Na Polícia Municipal, Max Wolff desempenhou as funções de Chefe de viatura, Instrutor de educação física e defesa pessoal, com especialização em jiu-jitsu, modalidade que chegou a ensinar em centros de instrução na Quinta da Boa Vista.
Em 1935, Max Wolff casou-se com Nair de Souza Chaves, e no ano seguinte, nasceu sua primeira e única filha, Hilda Wolff. Ainda em 1935, esteve envolvido na contenção da Intentona Comunista, no Rio de Janeiro, tomando o 3º Regimento de Infantaria que estava em posse das tropas rebeldes alinhados com a Aliança Nacional Libertadora, na Praia Vermelha. Em 11 de maio de 1938, os integralistas no Rio de Janeiro, precipitaram-se em uma ação armada com o objetivo de depor Getúlio Vargas, e promover as eleições daquele ano. Nesse contexto, tropas do Exército e da Polícia foram acionadas para sufocar o Levante, frustrando-o por completo. Em meio as tropas militares envolvidas mais uma vez se encontrou o Sargento Max Wolff Filho, respondendo ao chamado do dever militar e honrando os compromissos firmados na caserna.
No início dos anos 1940, Max já detinha boa experiência em combate, e era muito respeitado e querido entre seus camaradas de armas, porém seu casamento com Nair ficou cada vez mais difícil, o que culminou em divórcio. Mesmo assim recebeu a guarda integral da filha Hilda, a quem tinha toda a sua dedicação, amor e carinho paternal.
A partir de fevereiro de 1942, as águas do Atlântico Sul, tiveram sua soberania desrespeitada pela ação dos submarinos alemães que em rápidos e coordenados ataques torpedearam inúmeros navios mercantes brasileiros em pacífica navegação costeira, ceifando centenas de vidas inocentes. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o sentimento protetor e convicção patriótica do Sargento Max Wolff Filho fizeram com que ele passasse a ter a nação brasileira como prioridade máxima de seu instinto de proteção.
Em 09 de agosto de 1943, era criada a Força Expedicionária Brasileira, destacamento militar que teria a responsabilidade de preparar os melhores militares brasileiros para atuar no front europeu contra os alemães, e dessa forma, Wolff voluntariou-se assim quando teve oportunidade. Entretanto, mesmo sendo um valoroso militar detentor de boa experiência de combate e excepcional capacidade de liderança, foi rejeitado pelo recrutador devido contar já com os seus 32 anos de idade. Ficou inconformado com aquela situação e buscou algum recurso, até que ao descobrir que o seu antigo comandante, Zenóbio da Costa não era mais Major, mas sim, General e Comandante da infantaria da FEB, recorreu imediatamente a sua intercessão pessoal. Ao ser perguntado pelo General Zenóbio sobre suas condições físicas e de saúde, Wolff foi franco e sincero, e respondeu que tinha uma hérnia, e por causa disso não seria aceito. O General, seu velho amigo, ao ver sua situação o prometeu uma solução para aquela questão, e entregou-lhe uma carta de recomendação sem data, para ser utilizada pelo Sargento assim quando se encontrasse em condições de servir na Força Expedicionária Brasileira.
Ao raiar do ano de 1944, Max Wolff Filho submeteu-se a uma cirurgia para retirar a hérnia, no serviço hospitar da polícia, e enquanto se recuperava, observava ansioso a preparação da FEB, que partiu em seu primeiro escalão em 02 de julho de 1944. Após se recuperar totalmente da cirurgia, buscou logo ver a filha querida, e a internou em um colégio sob a tutela de um amigo policial de sua confiança, e das suas irmãs. Depois de se submeter a novo exame de saúde e apresentar a carta de recomendação dada pelo General Zenóbio da Costa, foi finalmente aceito nos quadros integrantes da FEB, como 3º Sargento excedente pertencente ao 11º Regimento de Infantaria, sediado em São João Del-Rei, Minas Gerais. Em 22 de setembro de 1944, embarcou rumo a Itália. O desembarque das tropas do 3º escalão foi realizado sem incidentes em 06 de outubro, em Nápoles, donde as unidades do 1º e 11º regimentos de infantaria partiram para treinamento em Pisa.
Em 1º de dezembro daquele ano, após recebimento do fardamento e material bélico novo, e aperfeiçoamento técnico e tático daquelas tropas, Max Wolff foi integrado a companhia de comando do 1º Batalhão comandado pelo Capitão Jacy Guimarães, e junto ao 11º Regimento partiram para o front, onde tomaram posição frente ao Monte Castello. Como já era um sargento veterano e experiente, foi posto na posição de assessor do comandante.
O Monte Castello, ou Cota 977, já havia se tornado em um verdadeiro desafio para os expedicionários brasileiros, e para todo o 5º Exército dos Estados Unidos. Era o ponto mais elevado das defesas alemãs na Linha Gótica. Do cume daquela elevação e em contato com o Belvedere, Castelnuovo Di Vergato, Della Torracia, Torre di Nerone e Castel D’Aiano, em seus flancos, os alemães compreendiam uma extensa rede defensiva que observavam todas as ações e movimentações dos aliados, assim como regulação seus disparos de artilharia e morteiros contra as posições brasileiras. A sua principal via de acesso para Bolonha e o Vale do Pó, a Estrada 64, estava sob constante vigilância da artilharia tedesca. Nada passava por aquela estrada sem ser intensamente bombardeado pelo inimigo. Sem a queda do Castello não era possível o prosseguimento de grandes ações ofensivas contra os alemães sem haver um elevadíssimo número de baixas. O Monte Castello precisava cair antes das primeiras nevascas, e na primeira quinzena daquele dezembro de 1944, a FEB lançou sua quarta tentativa para tomar aquele essencial ponto estratégico.
Na madrugada de 11 de dezembro, patrulhas de reconhecimento foram lançadas diante das posições alemãs para buscar pontos de contato com o inimigo. Era ali a execução dos primeiros preparativos para a investida do dia seguinte. Patrulhas como a do Tenente Mário M. Teixeira foram pegas em cheio pelos alemães, recebendo intensa chuva de morteiros e fogo de metralhadoras. O poder de fogo e violência no choque entre as duas forças era uma técnica para testar suas defesas, e aqueles pontos eram extremamente bem defendidos por tropas alemãs veteranas de Stalingrado e da Campanha do Norte da África. Os tedescos estavam em constante alerta.
O dia 12 de dezembro amanheceu sobre todo o front com chuva e neblina baixa, dificultando ainda mais a observação sobre os pontos inimigos. Era uma manhã fria e o campo de batalha havia se tornado em um terrível lamaçal, sendo outro fator desvantajoso para as tropas da FEB. As unidades do 1º Regimento e do 11º Regimento já se encontravam em seus pontos de partida quando a artilharia dos Estados Unidos despejou um pesado, mas impreciso, fogo de artilharia contra as unidades de defesa alemã. O elemento surpresa foi perdido. E assim, com todas as condições desfavoráveis, e sem o previsto apoio da avião, que não levantou voo devido ao mau tempo, o IIIº Batalhão do Regimento Sampaio partiu de suas posições originais às 06h00 da manhã. Em meia hora o 1º RI conseguiu realizar consideráveis prodígios atingindo as posições em La Roncole e Casa de Guanella, a menos de 1Km do Monte Castello, porém os alemães que já estavam em alerta máximo, perceberam aa movimentações do IIIº Batalhão, e sem demora fizeram com que um pesado fogo de morteiros e granadas fosse direcionado contra as posições recém conquistadas. Duas horas se passaram até receberem apoio do IIº Batalhão do 1º RI que logo também foi duramente rechaçado pela metralha alemã.
No flanco direito, o Batalhão de Jacy Guimarães, tomou Falfare, e ficou no aguardo da tropa reserva que devia chegar aquele ponto como combinado nos planos operacionais. Durante os combates naquele setor, Wolff voluntariou-se moveu-se rapidamente levando munições as tropas empregadas naquele setor, e na volta em busca de mais munições, levava consigo feridos para a retaguarda. O comando brasileiro ao perceber que a operação estava se encaminhando para mais um fracasso, acionou a tropa de reserva do IIIº Batalhão do 11º Regimento, que por uma má compreensão das ordens recebidas, saiu de seu curso e fins antes objetivados no plano operacional de 12 de dezembro. Enquanto isso, grupos de combate do Iº Batalhão do Regimento Sampaio alcançou com muito esforço o cume do Monte Castello, mas logo foram mortos pelos defensores alemães. Recebendo intensa barragem de artilharia e no alvo das metralhadoras e atiradores alemães pela frente e pelos flancos, o destemido batalhão foi obrigado a recuar às 14h30 da tarde. Às 15h00 da tarde, todas as unidades do 11º Regimento e do Sampaio retornaram aos pontos de partida amargando 140 baixas. Foi até ali o mais terrível e violento choque entre as tropas da FEB e os tedescos, e Wolff finalmente recebeu ali o seu batismo de fogo em continente europeu.
A noite caiu. No Quartel General os comandantes debatiam freneticamente sobre o fracasso da operação, e no front ainda se ouviam os gemidos dos feridos, e perambulavam pela terra de ninguém, os desaparecidos. Foi aí que o valoroso sargento brasileiro recebeu uma missão especial dada pelo General Zenóbio: resgatar o corpo do comandante da 1ª Cia, do 11º Regimento de Infantaria, Capitão João Tarcísio Bueno, que havia recebido um disparo no peito direito nas incursões de combate naquela manhã. Sem titubear e sereno, recebeu sua missão. Junto a dois padioleiros, partiu em busca do jovem comandante da 1ª Cia. Não o encontrou, mas socorreu e evacuou dois feridos para a retaguarda. O Capitão Bueno mesmo gravemente ferido, ficou imobilizado por 24 horas na terra de ninguém, até ser finalmente evacuado. Max Wolff por suas ações em 12 de dezembro de 1944, foi muito bem elogiado pelo Coronel Delmiro de Andrade, que o recomendou para a condecoração Bronze Star dos Estados Unidos.
Durante o rigoroso inverno de dezembro de 1944, todas as operações ofensivas na Itália foram paralisadas, e seguiu-se um período de defesa das posições conquistadas diante do Monte Castello, e das patrulhas de reconhecimento. Nesse contexto, o Sargento Max Wolff Filho voluntariou-se para dezenas dessas temidas incursões que sempre desafiavam o desconhecido e a própria morte. Devido a isso, recebeu a fama e o vulgo de Rei das Patrulhas, por sempre se voluntariar para as missões de reconhecimento mais arriscadas sempre conseguindo obter sucesso na execução dos objetivos designados por seus superiores.
Em 06 de março de 1945, após a tomada de Castelnuovo, Max Wolff sob o comando do Major Manoel Carvalho Lisboa, voluntariou-se para passar cabos telefônicos para as unidades na linha de frente. Mesmo com o terreno densamente minado, partiu para o cumprimento da missão logo após a meia noite do dia 07 de março. Sendo a tarefa bem sucedida, Wolff recebeu sua segunda menção elogiosa do General Mascarenhas de Morais. Poucos dias após a perigosa missão em campo minado, recebeu das mãos do General Lucian Truscott, a Bronze Star, e foi promovido a 2º Sargento.
Na segunda quinzena daquele mês de março de 1945, o Major Lisboa analisou a experiência de combate do seu Iº Batalhão, e julgou ser necessário a formação de um pelotão especial para o cumprimento de missões de reconhecimento e alto risco; um pelotão de choque no qual só deveriam serem integrantes aqueles mais aguerridos nos combates anteriores. Foi aí que surgiu o Pelotão SS, e para comandá-lo, o Major Lisboa escolheu ninguém menos que o 2º Sargento Max Wolff Filho. A FEB já havia concluído sua fase ofensiva nos Apeninos após a queda de Monte Castello, e com a chegada da primavera, o IVº Corpo de Exércitos e o Vº Exército Americano planejavam uma grande ofensiva em direção a Bolonha e ao Vale do Rio Pó. A 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária Brasileira era peça chave e fundamental no grande plano estratégico.
Montese, pequeno burgo italiano, era o último reduto defensivo alemão, guarnecido por toda a artilharia alemã envolvida naquela região. A queda de Montese representava o próprio colapso do exército alemão na Itália. Crucial era o sucesso do assalto aquela cidade.
Após receber um passe de seis dias de folga em Roma, onde teve a oportunidade de visitar o Vaticano, e pode conhecer mais da terra que estava ajudando a libertar do domínio nazista, retornou ao front revigorado e preparado para as ações finais da FEB na Campanha da Itália.
Em 12 de abril de 1945, as tropas da 1ª DIE mobilizou pelotões para a realização de patrulhas de reconhecimento nas cercanias de Montese. O QG do 1º Batalhão, em Monteforte, recebeu ordens do alto comando para a realização de incursões em posições onde foram detectadas movimentações de tropas alemãs em casas de campo isoladas que serviam de postos avançados da defesa de Montese. Reconhecer o terreno e limpar aquelas construções era obrigatório para o prosseguimento das operações de assalto contra o último baluarte defensivo dos tedescos. Duas patrulhas foram direcionadas para essa importante missão: a patrulha do Tenente Iporan Nunes, e a do Sargento Max Wolff com o seu Pelotão SS. Uma hora antes de partir para a missão designada pelo QG, Wolff declarou algumas palavras ao correspondente de guerra brasileiro Joel Silveira, mensagem essa dedicada a seus familiares, parentes e amigos, e principalmente, a sua adorada filha:
– Aos parentes e amigos, estou bem. A minha querida filhinha, o papai vai bem, e voltará em breve.
Pelotão reunido, bem equipado e armado com armas automáticas Thompson e BAR, partiram ao meio dia, para a Cota 747, elevação próximo a Rivia di Biscia. Era uma patrulha diurna, ou seja, os riscos de serem identificados eram elevados, porém tudo prosseguiu tranquilamente. O comando do batalhão acompanhava ali toda a ação de Wolff e seu pelotão através do posto de observação. Wolff cruzou duas fitas de munição em seu peito, e com sua Thompson em punho, observava tudo atentamente a sua frente. Às 13h30 daquela tensa tarde, o pelotão de 19 homens foi dividido em dois. O grupo esquerdo ficou sob o comando de Wolff, e o grupo direito sob o comando do Sargento Nilton Facion. Os dois progrediram revistando casas por todo o perímetro da Cota 747. A apreensão no PO era constante. Wolff se aproximou de uma casa, deu um chute na porta e entrou no recinto rapidamente. Pouco tempo depois saiu avisando que a casa estava limpa. A tranquilidade se estabeleceu por um tempo, até avistarem outra casa mais a frente. O 2º Sargento Wolff mandou que seus homens se abaixassem junto ao solo, e avançou sozinho desassombradamente contra a edificação. Ao ultrapassar a cerca da casa e chegar uma distância de 30 metros de sua entrada, uma curta rajada de MG42 vinda do interior da residência foi ouvida. Max Wolff atingido em cheio no peito, tentou erguer-se, mas logo foi atingido por uma segunda e mortal rajada de metralhadora. Imediatamente, o grupo que acompanhava Wolff respondeu ao fogo com suas submetralhadoras Thompson, e o bravo Soldado Alfredo Estevão da Silva tentou resgatar o seu sargento já sem vida, e também foi mortalmente atingido por um tiro na cabeça. Naquele instante os alemães lançaram dois sinalizadores chamando apoio da artilharia que quase de imediato respondeu o socorro dos defensores daquela posição, abrindo intensa barragem de fogo e aço diante da casa, impedindo qualquer resgate dos corpos de Wolff e Alfredo, forçando uma retirada. Ao mesmo tempo, do Posto de Observação do 11º Regimento de Infantaria, foi acionado cobertura de artilharia contra as posições alemãs nas montanhas para cobrir a retirada do pelotão, e fazê-lo retornar as linhas em segurança. O corpo de Max Wolff foi resgatado apenas 48 horas depois, após aquelas posições terem sido desalojadas pelo inimigo.
Heroicamente se encerrou ali nos campos de batalha da Itália, a vida de um dos maiores sargentos da história militar brasileira. Dias após, Montese colapsou, e em menos de um mês, a guerra na Europa chegou ao fim. Foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia, e 15 anos mais tarde, seus restos mortais foram transladados ao Monumento em Homenagem aos Mortos Brasileiros na Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Foi condecorado post-mortem com as Medalhas Cruz de Combate de 1ª Classe e Sangue do Brasil, e promovido a 2º Tenente. O intrépido Rei das Patrulhas, e comandante do Pelotão SS, não teve a felicidade de ver a vitória final das armas brasileiras que tanto soube honrar em sua pátria e no exterior, mas deixou ao Brasil, um verdadeiro exemplo de bravura, liderança, destemor, e coragem em combate; de amor fraternal e camaradagem com os seus comandados; de respeito aos seus comandantes; de disciplina no cumprimento do dever; de amor incondicional ao Brasil. Hoje, em todo o Brasil, Max Wolff Filho é tido como o maior e mais impecável exemplo do sargento militar brasileiro, elo fundamental entre o comando e a tropa. Seu Magno nome batiza inúmeras instituições pelo Brasil, a exemplo do 20º Batalhão de Infantaria Blindado, antiga unidade em que Max Wolff serviu no da década de 1930. É ainda Patrono da Escola de Sargento das Armas, em Três Corações, Minas Gerais. Em 26 de fevereiro de 2010, foi cunhada a Medalha Sargento Max Wolff Filho, pelo Decreto Nº7.116, para condecorar todos os sargentos e suboficiais da Marinha, Exército e Força Aérea Brasileira, que tenham se destacado por suas ações no cumprimento de sua carreira militar. Em 2019, a ESA instituiu o Sabre Sargento Max Wolff Filho, que é portado pelos Sargentos-Alunos durante toda a sua formação, levando consigo o símbolo e os princípios imortais que nortearam a vida e o caráter militar do grande herói brasileiro tombado na Segunda Guerra Mundial.
Autor: Carlos Ribeiro, colunista e correspondente da Nova Acção no Ceará.
Este artigo faz parte da série Os Militares do Brasil, especial da Nova Acção.