Homem Aranha: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.
A célebre frase que dá início a este texto é uma das mais importantes máximas que traduzem a heroicidade do “Homem Aranha”. O último filme deste herói tem feito bastante sucesso; e é um dos mais aclamados atualmente. Eu pude assisti-lo e, embora minha apreciação pessoal não tenha sido tão exagerada quanto a de outros fãs, é possível se divertir muito com o filme, e ele traz essa frase como foco principal. Tenho como objetivo deste texto explicar o que realmente quer dizer e o quão útil ela pode ser, se bem compreendida, para os jovens de hoje.
Cresci vendo a trilogia do Sam Raimi, e, como todos, lembro exatamente do contexto em que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” foi dito pelo Tio Ben.
Peter Parker tinha acabado de ganhar seus poderes, suas habilidades magníficas que o colocavam acima de qualquer ser humano. A primeiríssima coisa que pensou, nessa situação, foi em seu bem próprio acima de tudo. Foi, enganando o tio que pensou estar levando-o a uma biblioteca, a um ringue de luta livre para conseguir facilmente um bom prêmio em dinheiro. Depois de ter ganhado a luta sem muita dificuldade, quando estava para receber a premiação prometida, o organizador do evento deu-lhe muito menos do que o combinado. Bem como o Peter, o organizador pensou em si mesmo antes de tudo.
Assim que Peter saiu da sala do organizador, um ladrão entrou e rapidamente assaltou o lugar. O bandido fugiu pelo mesmo caminho que Peter estava usando para ir embora. O jovem Parker, dando de cara com o ladrão e, aborrecido por ter sido enganado pelo responsável do evento, sabendo que poderia facilmente parar o criminoso, decidiu dar de ombros, dizendo que aquilo não era problema dele. Quando já estava na rua, indo à procura do tio que o esperava em frente à biblioteca, e esta era próxima do ringue, encontra o Tio Ben dando seus últimos suspiros de vida. Seu tio tinha sido alvejado e o assassino estava fugindo em seu carro.
Decidido a ir atrás do bandido que matou seu tio, Peter, ao finalmente encontrá-lo, percebe que é o mesmíssimo ladrão que tinha deixado fugir. A culpa recaiu sobre ele e veio-lhe a certeza de que se tivesse parado o bandido antes. seu tio teria sobrevivido, mas pensou apenas em si mesmo e isto custou a vida daquele que mais amava, que mais tinha próximo como pai.
Semelhante caso ocorreu nos filmes do Andrew Garfield, mas não vamos detalhar este.
Neste novo filme do Tom Holland, “Homem Aranha – Sem Volta Para Casa”, a mesmíssima frase é dita num contexto muito parecido, embora vários elementos circunstanciais estejam mudados. Todavia não poderei detalhá-lo sem estragar a experiência para quem ainda o for assistir.
Esta frase ─ que fazemos questão de repetir novamente: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” ─ é simplesmente a mesma mensagem da frase evangélica (São Lucas 12,48): “a quem muito foi dado, muito será exigido”.
Analisemos os dois principais elementos da frase característica do herói da Marvel: “poderes” e “responsabilidades”. O que são poderes? São capacidades. A possibilidade, o poder de fazer algo. Por exemplo: eu particularmente não sei nadar, então é uma habilidade que no momento eu não posso exercer. Um nadador experiente tem essa possibilidade, ele pode nadar, ele tem esse poder. Poder, portanto, é capacidade; entendido isto, vamos para o segundo elemento: o que são “responsabilidades”? São as consequências. Vêm da capacidade de se responder a algo, isto é, de ser responsável. Como um criminoso que pratica um crime e deve responder por ele. Da mesma forma, um militar quando recebe uma condecoração responde pelo mérito dela. Voltando ao exemplo do nadador, se eu não sei nadar, eu não tenho a mesma responsabilidade que um nadador tem de salvar uma pessoa que está se afogando. Ele pode ajudar aquela pessoa, enquanto eu, nessa situação, tentando salvá-la, acabarei me tornando outro em perigo. Ele, tendo o poder de nadar, tem a responsabilidade de salvar uma vida que esteja em perigo de se afogar. Com seu poder veio também sua responsabilidade.
Voltando, agora, ao exemplo da frase evangélica: ora, se muito foi dado, se alguém tem capacidades que são de alguma forma úteis, boas (sabendo que tudo que se tem vem de Deus, que vem como dádiva do Senhor), o exercício delas será cobrado no mesmo rigor de seus poderes. As responsabilidades serão cobradas segundo os grandes poderes. Se os poderes forem grandes, as responsabilidades lhes serão equivalentes em tamanho.
Esta atualização da frase evangélica, a icônica máxima do Tio Ben, é bastante útil para os tempos de hoje. Vivemos na era em que se quer as coisas sem esforço ou consequência. E essa fuga das responsabilidades, apegando-se apenas aos poderes, é causa de muita desgraça, de muita tristeza.
Os jovens de hoje querem ser irresponsáveis, querem fazer tudo sem ter que arcar com os resultados. São jovens, podem fazer muitas coisas úteis ainda: podem dedicar-se a aspirações grandiosas e ajudar muita gente, ajudar sua Nação, ajudar com algo útil que vá além do seu próprio ego; mas querem se escusar de suas obrigações, renegando a grandiosidade, a dignidade imensa que seus espíritos podem alcançar, por uma vida medíocre, anestesiada, movimentada em sensações, mas inanimada em utilidade transcendental. Querem a ação sem a reação. Querem o Direito sem o Dever. Querem dinheiro, mas não querem trabalhar, então viram eternos dependentes dos pais. As situações são diversas. Querem as bonanças, mas sem as cobranças e, nesta tentativa de se obter as primeiras e se esquivar das segundas, muitos desastres vão sendo causados, porque podemos dizer que é uma lei da natureza o fato de que o poder vem com responsabilidade; e não se pode contrariar uma lei da natureza sem acabar criando uma desgraça.
Bem, foi desse tipo de tentativa de se esquivar das responsabilidades de seus poderes que o Homem Aranha do Tom Holland, neste novo filme, acabou desencadeando inúmeros problemas catastróficos.
Essa sentença do Tio Ben (continuemos dizendo ser dele) é um anúncio bastante útil aos mais jovens de que a vida realmente possui durezas que não se podem ser esquivadas, e muitas delas vêm como resultado do que fazemos, ou, mais ainda, que se muito podemos fazer pelo bem, muito devemos fazer por ele. Quando é escolhida a omissão, sendo necessária a ação, acaba-se contribuindo para o erro, para o mal. Erram terminantemente os que, diante do mal, podendo o combater, se omitem. Desperdiçam seus poderes não cumprindo suas responsabilidades, pois são estas que dão o devido uso aos primeiros.
“Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la.” – Santo Tomás de Aquino.
Autor: Jonas de Mesquita. Presidente Provincial do núcleo potiguar da Frente Integralista Brasileira, bacharel em Direito. Também é autor do livreto “Nós, os Integralistas”.