Com certeza, uma das questões mais “difíceis” de serem discutidas, atualmente, é o Fascismo. Apesar da alta disponibilidade de fontes primárias sobre a Doutrina, desde pequenos opúsculos (A Doutrina do Fascismo, The Political Doctrine of Fascism, etc…) até obras mais complexas, como “Comunismo ou Fascismo?”, de Olbiano de Melo, a mídia parece ter dificuldades em definir uma simples doutrina política. Com isto, Fascismo é reduzido a um amontoado de generalizações, pontos genéricos e coleções de atitudes. Umberto Eco, em seu famoso livreto “O Fascismo Eterno”, acusa o Fascismo de não ter quintessência, “e sequer uma só essência”. É uma acusação pífia de um livro sem bibliografias. Para Eco, seu inexistente “Ur-Fascismo”, “os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos” (ECO, 1995). Além do termo inventado, Eco define Fascismo, resumidamente, apenas como aquilo que há de pior nas ideologias políticas. Apenas isso. Seus “pontos de fascismo”, a frente, são genéricos. Podem estar presentes em qualquer ideologia política e regime, até mesmo no mais Comunista. Mas, a obra citada não tem qualquer peso doutrinário. Olbiano de Melo define Fascismo como “respeito às instituições fundamentais como sejam: direito de propriedade, hereditariedade, o de salariado, o de família, etc., assim como um regimen constitucional de onde emana, regulada pelo direito e pela justiça, toda a ordem pública” (DE MELO, 1931). Ambas as definições são lato sensu, porém, a definição de Olbiano é mil vezes mais realista, que entra em acordo com os ensinamentos jurídicos de Alfredo Rocco, em contraposição à definição de Eco, que acusa o Fascismo de não reconhecer direitos individuais, mas como visto acima, não passa de mito.
Como podemos ver, esta é uma das definições mais aceitas de Fascismo. Uma das mais respeitadas. E pelo visto, o autor dela parece carecer de conhecimento sobre a doutrina. Apesar dessa definição não ter grande embasamento e ser extremamente genérica, por que ela é a mais aceita? Porque ela serve a interesses políticos da mídia…
Por exemplo, o artigo do jornal(Eco?) Brasil de Fato, “Bolsonaro é fascista? Listamos 13 frases do candidato para reflexão”, tem diversos pontos em comum com a definição do ensaio de Eco. A prova cabal é a própria similaridade entre os pontos, e, a quantidade. Umberto Eco define Fascismo com 14 pontos. O artigo em questão parece definir em 13 (deve ter acabado o estoque de frases infelizes ou tiradas de contexto do ex-presidente). Dos 13 pontos presentes no artigo, sete também estão presentes na obra de Eco. Os outros seis podem estar presentes em alguns dos outros pontos, como “direitos trabalhistas atacados” poderia, por exemplo, estar presente no ponto 13, como repressão aos direitos individuais.
Que quero dizer com isso tudo?
É bem simples. A simplicidade, genericidade e aplicabilidade dos pontos de Eco servem, perfeitamente, aos interesses da mídia progressista. Como exposto por Horia Sima em seu livro “O que é o Nacionalismo?”, os antigos comunistas alargaram a esfera de aplicação do termo “fascismo”. Verteu-se em fascista qualquer um que fosse, no mínimo, anticomunista. A motivação por trás disso é óbvia: deslegitimar qualquer oposição. Se seu opositor é o nefasto fascista que abriu campos de concentração, perseguiu pessoas por sua origem étnica ou religiosa, você só pode ser o bem encarnado. O maior exemplo de humanismo e compaixão (obviamente ignorando os feitos da U.R.S.S., com seus Colcoses e expurgos).
Com tal campanha de difamação, é possível derrotar qualquer opositor.
Jair Bolsonaro não é Fascista. Está longe de ser. Além de associar tal doutrina ao Comunismo, suas políticas econômicas extremamente privatistas, e, opostas aos direitos trabalhistas (que, ao contrário do que Eco pensa, são defendidos pelo Fascismo), impossibilitam Bolsonaro de ser um Fascista. Mas não é este o objetivo da mídia. Ela não quer, como Eco diz, “apontar” um Fascista. Ela apenas quer manter a hegemonia do Status Quo que é francamente Esquerdista.
Mas não é só isso.
Acusar de Fascista já é a ofensa perfeita para destruir uma reputação. Ninguém associa qualquer pessoa ou movimento ao Fascismo porque ela é Fascista, ou, por desgosto ao Fascismo (mesmo que o acusador seja extremamente antifascista). Isto é apenas um modo brando de associar qualquer pessoa ao Nazismo. Num tweet, o grupo Judeus pela Democracia, diz, “O candidato bolsonaro termina o debate com o lema criado pelo fascismo e usado pelo integralismo no Brasil.”[1] Apesar de terem acusado Bolsonaro de ser Fascista, nesta postagem, fazendo paralelo com o lema Integralista (que é uma doutrina, erroneamente, associada ao Fascismo), a postagem coloca um panfleto da “Associação Brasil Livre”, que, tem como seu emblema: uma suástica nazista. O jornal Brasil 247, fez o mesmo. Faz paralelo com a AIB, “A expressão é utilizada pela Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento com inspiração no fascismo italiano.”, mas na imagem de título (possível sensacionalismo?), está presente o panfleto com o infame símbolo.
A intenção em associar alguém ao Fascismo é conectar essa pessoa ao Nazismo, não importa se são laços estreitos ou quase inexistentes.
O Nazismo é uma doutrina política maldita em todos os quatro cantos da terra. Tornou-se a palavra chave perfeita para deslegitimar qualquer opositor político. As palavras “desgraçado”, “facínora”, “assassino”, “reacionário” e afins tornarem-se ofensas ineficazes. Não se fala de “genocídios reacionários”, ou de “desgraçadistas enviam pessoas para campos”. São palavras que, apesar de terem conotação ofensiva, são apenas isso: simples palavras. Pesam o mesmo que uma pluma. Agora tente o adjetivo “Nazista”, e verá a diferença. Nazista (ou Nacional-Socialista) não é uma palavra utilizada, mais, apenas, para pessoas que levantam a bandeira de uma doutrina política. Virou uma palavra vazia, mas ao mesmo tempo, pesada.
Nazismo não é mais uma doutrina política, tornou-se sinônimo de tudo de ruim que um ser humano pode ser. Associar seu opositor político ao pior dos crimes é mais fácil do que ter razão. Com o simples argumento de “estamos combatendo o fascismo e nazismo!”, ganha-se carta branca para fazer qualquer coisa.
E aqui chegamos no Extremismo.
Que é a famigerada “extrema-direita”? Ora, a definição é clássica. Todo “conservador reacionário”, o mais religioso católico, o mais eugênico racista, o mais revolucionário fascista. Todos, de acordo com a mídia, de “extrema-direita”. Como podem ideias tão opostas, e, até mesmo, contraditórias em certos pontos, estarem no mesmo campo? É simples. Como visto acima, a Direita política é recorrentemente associada ao Fascismo e Nazismo. O que já faz ela ser mal vista. Agora, adicione “extremo”, nesta equação. Reforçar que seu inimigo é um extremista desmiolado, com o único objetivo de “oprimir os trabalhadores e massacrar minorias” é vital para a permanência da narrativa.
Não precisa nem mesmo fazer sentido.
Quando Kim Kataguiri, infame liberal, defendeu a existência de um Partido Nazista no Brasil (assim como Monark), todos ficaram boquiabertos. O que esperavam de um Liberal? No excelente artigo “Monark, a prova da loucura liberal”, de Jonas de Mesquita, é dito que “a liberdade, como é hoje cultuada pelos liberais, é tomada absolutamente fora de seu sentido e é utilizada para basear pensamentos que em suas conclusões gerais se desligam da realidade, o que inevitavelmente conduz a alguma atrocidade.” Kim Kataguiri e Monark estavam apenas sendo coerentes com seu ideal de liberdade irrestrita para todas as vertentes políticas. Claramente, isso nos elucida que Kataguiri e Monark estão longe de serem da extrema-direita. São verdadeiramente liberais defensores da liberdade irrestrita… Mas é assim que a mídia pensa? O Brasil 247, em um artigo intitulado “O MBL enganou muita gente: nunca foi apartidário e agora mostra a sua face de extrema-direita defensora do nazismo”, diz, “E agora uma de suas lideranças, Kim Kataguiri, resolveu explicitamente dizer a que veio: defender o nazismo. Corrupção, racismo e nazismo (há mais coisas, mas vamos ficar por aqui!) estão no DNA do MBL.”
MBL, agremiação liberal, defensora do mais irrisório liberalismo, da liberdade irrestrita, dos mais toscos exemplos de entreguismo: é Nazista e de extrema-direita.
Lhe pergunto, novamente: que é extrema-direita? A resposta é muito simples: nada. Apenas mais um termo vazio, assim como Nazismo tornou-se, com o único objetivo de deslegitimar um opositor.
Mas deu certo?
Como podemos ver, a mídia não poupou esforços para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. Acusando-o de tudo, de qualquer coisa que seja no mínimo “feia” ou “degradante”. E o resultado foi a vitória de um ex-presidiário e de seu grupo de malfeitores, retornando ao poder depois de tanto tempo. Bolsonaro não é nenhum cavaleiro de armadura branca. Muito longe disso. Sua extrema ignorância nos levou ao retorno de Lula ao poder. Mas por que isso?
Lula serve aos mesmos interesses que os da mídia.
Interessantemente, o jornal “Carta Capital”, de cunho esquerdista que comemora a derrota de Bolsonaro nas urnas e comemora a vitória de Lula, noticia o fato de que Lula recebeu apoio de banqueiros: “Segundo a Folha de S. Paulo, que conversou com representantes desses grupos sob condição de anonimato, banqueiros, gestores de fundos de investimentos e líderes do agronegócio, comércio e indústria veem a disputa entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Boa parte do grupo também demonstra favoritismo do petista, reforçando o cenário apontado em diversas pesquisas de diferentes instituições, que mostram Lula em vantagem contra o ex-capitão.”[2]
Creio que não seja necessário falar mais.
A histeria de “extrema-direita”, “neofascismo”, “neonazismo” e afins, noticiando pequenos grupos como se estivessem noticiando agremiações partidárias maiores do que o próprio PNF ou NSDAP servem apenas ao interesse de difamar. O compromisso não é com a verdade, mas com a notícia.
Autor: J.M.
Notas:
[1] Judeus pela Democracia. “Deus, Pátria, Família”. O candidato bolsonaro termina o debate com o lema criado pelo fascismo e usado pelo integralismo no Brasil. Brasil, 28 de ago. de 2022. @jpdoficial1 Disponível em: https://twitter.com/jpdoficial1/status/1564081270971326466?s=20&t=O3r8iq7RHqGFC-G1PRh7Dw. Acesso em: 16 dez. 2022.
[2] Banqueiros e empresários desistem da 3ª via e veem Lula mais capaz de ‘consertar estragos’ na economia. Carta Capital, 2022. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/economia/banqueiros-e-empresarios-desistem-da-3a-via-e-veem-lula-mais-capaz-de-consertar-estragos-na-economia/. Acesso em: 16/12/22.
Bibliografia:
ECO, Umberto, O Fascismo Eterno. São Paulo: Editora Record, 2020.
DE MELO, Olbiano, Comunismo ou Fascismo?. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1937. p. 103.
SIMA, Horia, O que é o Nacionalismo?. Trad. F. Alves. Brasil: Nova Offensiva Editorial, 2021.
Bolsonaro é fascista? Listamos 13 frases do candidato para reflexão. Brasil de Fato, 2018. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/10/17/bolsonaro-e-fascista-listamos-13-frases-do-candidato-para-reflexao. Acesso em: 16/12/22.
“Deus, Pátria, Família”: Bolsonaro termina debate com lema criado pelo fascismo. Brasil 247, 2022. Disponível em: https://www.brasil247.com/midia/deus-patria-familia-bolsonaro-termina-debate-com-lema-criado-pelo-fascismo. Acesso em: 16/12/22.
MONARK, A PROVA DA LOUCURA LIBERAL. Nova Offensiva, 2022. Disponível em: https://novaoffensiva.com.br/monark-a-prova-da-loucura-liberal/. Acesso em: 16/12/22.
O MBL enganou muita gente: nunca foi apartidário e agora mostra a sua face de extrema-direita defensora do nazismo. Brasil 247, 2022. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/o-mbl-enganou-muita-gente-nunca-foi-apartidario-e-agora-mostra-a-sua-face-de-extrema-direita-defensora-do-nazismo. Acesso em: 16/12/22.