Introdução ao Integralismo

“Cremos fielmente em Deus. A partir desta crença é que deriva todo o nosso pensamento. As ideologias políticas tratam sempre de economia, de questões administrativas e sociais, mas ignoram Deus na realidade.”  

— Jonas de Mesquita 

O que é o Integralismo? Esta doutrina, formada em 7 de Outubro de 1932, após diversos estudos sociais e políticos feitos na Sociedade de Estudos Políticos — S.E.P., ainda encanta os olhos de muitos. Por quê? O que o Integralismo pretende para o Brasil?

Atualidade do Manifesto de Outubro

O documento fundamental do Integralismo no Brasil, o Manifesto de Outubro diz que o Homem vale pelo trabalho, pelo esforço que faz em prol de sua família, de sua Pátria e da sociedade, etc. Esta é uma concepção profundamente Tradicionalista. A defesa dos valores fundamentais do Homem é de suma importância para o Integralismo. O Homem, sem sua família, é infeliz. Sem sua Pátria, é sozinho. Sem a sociedade, é desordeiro. As ideologias anarquizantes (Liberalismo, Socialismo, etc.) querem tirar do Homem tudo o que lhe forma: o Liberalismo lhe tirou a Moralidade e a Família. No Liberalismo, as famílias não importam, apenas o crescimento do Capital e a destruição do Estado importam. No Socialismo, já não bastante as afrontas feitas pelo Liberalismo, quer tirar do Homem sua Pátria e seu Deus. Que isto ilumina no nosso presente? Os males persistem os mesmos. O Liberalismo (após a sua vitória sobre o Bolchevismo em 1991) se apossou do mundo e se tornou um semideus inquestionável. As formas de “Justiça Social” incorporadas pelo já falecido Socialismo tiveram de se adequar ao Novo Mundo. O Neomarxismo, adotando pautas identitárias, tenta triunfar em nome do antigo Marxismo, já falecido desde 1991. Porém, não são apenas os partidos de agendas Neomarxistas (como os ainda existentes Partidos Comunistas ao redor do globo) que são as únicas expressões modernas do antigo Esquerdismo. A antiga social-democracia, já conhecida por todos, é a pauta mais vívida e popular dos partidos ditos “vermelhos”. O Partido dos Trabalhadores, um dos maiores baluartes da social-democracia no Brasil, é o exemplo mais atual das pautas antes defendidas pelos antigos Marxistas. Suas ideias apátridas, desintegradoras da família, de corrupção dos valores morais ainda são as mesmas: porém, estas ideias foram não apenas democratizadas como também foram capitalizadas. O PT e sua agenda não apresentam nenhuma ameaça ao Capitalismo.

“Que fazer, então?”, pergunta o trabalhador, “devemos nos entregar ao Liberalismo?”. A resposta é simples: não. As forças desintegradoras da Pátria querem que o povo viva na falsa dicotomia – de Esquerdas e Direitas – para sempre. Nada tem o trabalhador a ganhar no Liberalismo. O Liberalismo pretende a anarquização total da Economia. Sua solução absurda (e mágica) de entregar o povo à boa vontade do Livre Mercado só irá gerar o problema em que já vivemos. A escravização do trabalhador, a desintegração da família e o desprezo à Pátria. “Qual é a solução?”, pergunta o trabalhador aflito. A resposta é simples: o Estado Integral. 

O Estado Integral

“Pretendemos realizar o Estado Integralista, livre de todo e qualquer princípio de divisão: partidos políticos; estadualismos em luta pela hegemonia; lutas de classes; facções locais; caudilhismos; economia desorganizada; antagonismos de militares e civis; antagonismos entre milícias estaduais e o Exército; entre o governo e o povo; entre o governo e os intelectuais; entre estes e a massa popular.”

— Manifesto de Outubro

Matheus Batista, no prefácio à excelente obra “Nós, os Integralistas”, de Jonas de Mesquita, diz o seguinte: “Para nós, todo homem é Homem Integral: tem uma dupla realidade substancial e uma série de aspirações. É assim que os homens devem ser considerados.” Do jeito que concebemos o Homem, devemos conceber o Estado.[1] O Estado Integral defenderá as aspirações do Homem, sua família e seu trabalho. Mas o que constitui o Estado Integral? Primeiramente, queremos um Estado Ético. Hegel diz que o Estado é “o espírito enquanto se realiza com consciência no mundo”, é uma ideia absoluta, a própria ética. Já o Estado da concepção Integralista é o contrário: o Estado ESTÁ subordinado à ética. Na explicação de Miguel Reale, a primeira consequência da aceitação do Estado ético é o conceito dinâmico dos assim chamados direitos fundamentais do homem.[2] 

Só o Estado pode manter o equilíbrio. Mas seria isso quase um Estatismo Socialista? Não. O Estado Integralista não é igual ao Estado do Socialismo absorvente. Ele, diferente do Socialismo, defende as projeções morais do Indivíduo: a Família, Propriedade, Pátria e a Religião.[3] O dever de qualquer Estado minimamente sadio é defender estas instituições, ao contrário do Estado Liberal, que preza apenas pela produção e pelo lucro capital. A produção e a economia estão subordinadas à Família, pois, o Homem que trabalha faz parte de sua célula familiar e trabalha para mantê-la. Quando o trabalho se torna um fardo que impede o trabalhador de cuidar de sua família, o transformando em uma mera máquina, o trabalho (e por conseguinte a produção) não se difere mais da escravidão, fazendo o trabalhador perder o interesse em continuar trabalhando. O que gera as greves, as revoltas e os conflitos de classe. O dever do Estado é garantir que o trabalho jamais se torne escravidão; deve-se trabalhar para viver e não viver para trabalhar. O Estado Sadio ama seu povo e está disposto a protegê-lo de qualquer tentativa de subjugá-lo, tanto economicamente como militarmente.

A propriedade é uma das instituições de que a família necessita. Uma família precisa de conforto, de um lar, de um local para chamar de seu, e é por isso que o dever do Estado é proteger a propriedade da deturpação capitalista, que monopoliza a propriedade nas mãos dos empresários, banqueiros, etc. “A família”, reza o grande Estadista corporativo, “que se abriga sob o seu próprio teto é naturalmente mais econômica, mais estável, melhor constituída.”[4] A propriedade deve servir a família e não ser usada contra ela, como é feito no Estado liberal, com promiscuidades tipo a pornografia.

A Pátria é, além do solo em que se situa a Nação, é a reunião de várias famílias. Com a mesma origem de terra, com as culturas inerentes àquele solo. Essa união se alicerça na cooperação mútua, na consciência coletiva e de um propósito glorioso. Miguel Reale diz: “Um povo torna-se Nação quando se analisa interiormente e recebe do passado a consciência de um papel na história.”[5] Contra a mentira marxista de “os operários não têm Pátria”, combatemos com “não discutimos a Pátria”. Sem a Pátria, não é possível assegurar os direitos fundamentais: a Família e a Propriedade.

A Religião é a saúde do espírito. O Integralismo não concebe o Homem como um animal que come e faz sexo, concebemos o Homem em sua totalidade, isto é, em carne e em espírito. Somos intrinsecamente Espiritualistas, seguimos o conceito da Encíclica Divinis Redemptoris: apelo a todos que creem em Deus e fazem dele a base de toda a sociedade. Como disse Jonas de Mesquita: “Queremos uma pátria grande, sustentada nos alicerces mais inabaláveis. Uma nação longe do hedonismo, do espírito burguês, da desordem, da libertinagem, do imoralismo, do rancor, da violência, e de qualquer outra coisa que contrarie os supremos desejos de Deus.”[6]

O objetivo máximo do Estado Integral é esse: Deus, Pátria e Família.

A Economia 

“Que outra coisa é a riqueza quando não se pensa em Deus? Um ídolo de ouro, um bezerro de ouro. E estão adorando-o, prostram-se diante dele, oferecem-lhe sacrifícios. Que enormes sacrifícios são feitos diante da idolatria do dinheiro! Não só sacrifícios, mas iniquidades. Paga-se para matar. Paga-se o pecado. E se vende. Tudo se comercializa. Tudo é lícito diante do dinheiro.”

— Dom Romero 

O Integralismo, como uma oposição ao Comunismo e ao Capitalismo, tem seus próprios postulados econômicos: Corporativismo e Distributivismo. A reorganização da economia é um objetivo claro para o Estado Integral, que deve ser feito para o bem geral da Nação e do Povo. 

O Manifesto-Programa reza:

“O objetivo último do Estado Integral, em matéria econômica, é permitir, mediante a sua supervisão, coordenação e vigilância, que as próprias classes produtoras, com responsabilidades definidas, propugnem pelos próprios interesses nacionais, eximindo-se da tutela de terceiros, estranhos aos grupos produtores e cuja interferência indébita e perniciosa se processa no Estado chamado liberal, mediante um verdadeiro sistema dirigido no interesse exclusivo de pequenas tiranias e oligarquias econômico-financeiras.”

O exemplo prático português:

“O problema pode ser resolvido pela organização corporativa, e neste caso, em vez de uma economia dirigida pelos governantes, podemos ter uma economia autodirigida, fórmula incontestavelmente superior. Qualquer que seja a função dos órgãos corporativos na estruturação das leis – função de estudo e preparação no caso da nossa Constituição política, funções de deliberação em outros sistemas -, a verdade é que a economia nacional pode ser suficientemente dirigida mesmo sem a existência de preceitos gerais, unicamente graças a acordos bilaterais sobre as quantidades e condições de produção, sobre o preço e os privilégios do trabalho.”

A economia Integralista serve a um único propósito: o Povo. De que adianta uma Nação abundante com filhos que passam fome? A Nação, no Estado Integralista, produz para si, produz para o povo, diferente do Capitalismo, cujo único objetivo é o capital. O Trabalho, no Estado Integral, é a mais nobre das atividades humanas.

O gentílico “brasileiro” dado aos habitantes de nossa Nação, era dado para aqueles que trabalhavam extraindo o pau-brasil.* No nosso gentílico, já é indicado que somos um povo trabalhador! Por isso, o objetivo fundamental do Integralismo é retirar o Trabalho, tão nobre ofício, das garras do Capitalismo, que o transforma em escravidão. A concepção Integralista do Trabalho é intrinsecamente Cristã.

“O Trabalho, para nós, cristãos, não é a mercadoria sujeita à lei da oferta e da procura, conforme a considera a economia liberal. Nem simplesmente o produto sujeito à especulação da mais valia segundo o socialismo marxista, que dessa forma o toma como complemento do objeto inanimado sobre o qual opera o trabalhador. […] O Trabalho, entretanto, para nós, cristãos, é considerado como um ato, ou série de atos, puramente espirituais. Daí o conceito em que o temos: 1º. como expressão da liberdade humana; 2º. da capacidade criadora do Homem; 3º. como meio pelo qual o Homem visa um bem temporal objetivando um dom sobrenatural.”

Completando:

“O Trabalho, pois, deve ser tomado como benefício e, nessa acepção, ele adquire a própria grandeza da caridade, ou do amor que une todos os homens numa sociedade cristã.”

Bem resumidamente, esses são nossos objetivos econômicos. Aqui, não está presente toda a complexidade do esquema Corporativo ou das funções econômicas de cada projeto nosso. A leitura do artigo “O que é a Economia Integralista?” para maior profundidade no assunto é extremamente recomendada.

A Revolução Espiritual

“Para nós, todo homem é Homem Integral: tem uma dupla realidade substancial e uma série de aspirações. É assim que os homens devem ser considerados. É assim, portanto, que o Estado deve ser considerado — Estado Integral, para conduzir o homem à satisfação integral e justa de suas aspirações, por um lado, e evitar que seja mutilado em alguma dessas realidades e legítimas aspirações, por outro.”

— Matheus Batista

Como já foi exposto acima, nós não consideramos o Homem em apenas uma realidade. O Homem não foi feito, unicamente, para ter prazer; não foi feito para ser um mero instrumento da coletividade nem do Estado: o Homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. O Espírito também é uma realidade, ele também compõe o Homem. Um Espírito doente é tão ruim quanto um corpo doente. O Espírito moderno é doente, infeccioso, estéril e infeliz. É a ausência de Deus. Muito falam de Direitos Humanos, mas nunca falam de Deus… A maior parte da população que constitui nosso Planeta é religiosa! E mesmo assim, Deus é rejeitado na ONU, nas Escolas e no Estado. É por isso que é necessária uma Revolução Espiritual. O Homem deve voltar a Deus, deve se voltar ao seu Criador.

A Terceira Humanidade, a Humanidade Ateísta, já está aos pedaços. Já é tempo de proclamarmos uma nova Humanidade, a Quarta Humanidade, a Humanidade Cristã. O Brasil tem o destino de não apenas ser uma Civilização, mas de criar uma nova Civilização. Uma Nação de proporções continentais como o Brasil tem o dever de ditar o seu futuro, de guiar uma Revolução. Euclides da Cunha, muito sabiamente, disse: “A nossa evolução antropológica reclama a garantia da evolução social. Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desapareceremos.” 

Nossa Pátria tem uma história e tem um destino. A Terra de Santa Cruz, abençoada pelo Cruzeiro do Sul, que como nosso Chefe já apontou, tem a forma de uma Cruz. Com isso em mente, o nosso destino é claro: a Cruz.

Pelo bem do Brasil, Anauê!

Autor: J.M.

Notas:

* O historiador Pedro Calmon interpreta que o gentílico “brasileiro” tem o mesmo sentido que viajante. Por exemplo: Romeiro (aquele que viajou para Roma).

[1] BATISTA, Matheus. Inversão de Valores. Prefácio. In: MESQUITA, Jonas de. Nós, os Integralistas. Brasil: Nova Offensiva. p. 6.

[2] REALE, Miguel, Obras Políticas (1ª Fase – 1931/1937). Volume II. Brasília: UnB, 1983. p. 138. 

[3] SALGADO, Plínio, A Quarta Humanidade. São Paulo: Editora das Américas, 1955. p. 109.

[4] SALAZAR, António de Oliveira, Como se Levanta um Estado. Rio de Janeiro: Editora Pátria Nova, 2022. p. 70.

[5] REALE, Miguel, Obras Políticas (1ª Fase – 1931/1937). Volume I. Brasília: UnB, 1983. p. 81.

[6] MESQUITA, Jonas de, Nós, os Integralistas. Brasil: Nova Offensiva. p. 26.

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