Revolução, reação e fascismo

“Tudo começa no místico e termina na política.” Esta célebre frase de [Charles] Péguy, retirada de Notre Jeunesse, ilustra perfeitamente o obstáculo que os movimentos políticos radicais sempre enfrentam. O nascimento deles é como um jorrar, um rio subterrâneo que emerge e se transforma em uma torrente furiosa. Quanto tempo levará até que se torne um rio tranquilo? O fascismo italiano exerce uma influência considerável sobre os nacionalistas revolucionários. Para muitos, é um modelo, um guia, tanto em matéria de política quanto de mística. Mas ainda nos é permitido ignorar a realidade do que foi esse fascismo e a direção que o Duce lhe deu?

Tornou-se um hábito — culpa, em grande parte, da historiografia atual e de certa preguiça intelectual — tratar o fascismo como um bloco monolítico, unido sob Mussolini, ignorando assim as fortes oposições internas. Quais eram elas? Monarquistas contra republicanos, centralizadores contra descentralizadores, católicos contra ateus. Em resumo: reacionários contra-revolucionários. Recusar-se a reconhecer as divisões internas do fascismo é afundar com ele, sem a esperança de aprender as lições que ele tem para nos ensinar.

Se o senhor Mussolini criou o fascismo, também é responsável por sua falência intelectual e pelo desvio de seu propósito original. O fascismo nasceu da profunda necessidade de uma revolução na Itália após a Grande Guerra. Entre a miséria e as esperanças frustradas pela vittoria mutilata, e após um conflito devastador que colocou a economia italiana de joelhos, uma raiva surda crescia no coração dos italianos. Ao criar os Fasci italiani di combattimento em Milão, Mussolini respondeu a esse ímpeto revolucionário. Ele fazia parte disso. Ele era um dos socialistas revolucionários excomungados pelo PSI [Partido Socialista Italiano], que proclamavam, junto com anarquistas, futuristas, arditi e veteranos de guerra, que a Itália precisava romper as correntes do conservadorismo: destruir a monarquia em favor de uma república descentralizada, abolir a nobreza e libertar-se do clericalismo sufocante.

No entanto, a distorção foi rápida. Culpa, sem dúvida, das questões políticas: conter o avanço comunista durante o biennio rosso. A burguesia italiana, aterrorizada pela ideia de uma revolução comunista e frustrada pela inércia do regime vigente, depositou suas esperanças nos fasci que surgiam em toda a Itália. Mussolini, apostando alto, lançou a Marcha sobre Roma. O governo entrou em pânico. Apenas o rei poderia conter a onda, declarar estado de emergência e esmagar a insurreição. Ele não o fez. A democracia parlamentar italiana caiu como uma fruta madura nas mãos do Duce. Mussolini conseguiu seu ousado golpe. O fascismo, no entanto, vivia suas últimas horas.

Como um maremoto, o fascismo tomou tudo, ou quase tudo, na Itália. Em poucos anos, o fascismo triunfou e se impôs por toda parte. Até mesmo o clero foi seduzido por ele — um feito e tanto! Apenas no exército ainda predominava a fidelidade ao rei. Contudo, quanto mais as coisas mudavam, mais permaneciam as mesmas. Assim que chegou ao poder, Mussolini adotou uma guinada liberal, apenas um ano após a nova política econômica de Lênin. O Duce proclamou o desejo de retirar o Estado da economia. Mas, apesar de suas influências sorelianas, não foram para os trabalhadores que foi entregue a direção da economia.

O verdadeiro marco foi a Carta do Trabalho de 1927. O Estado total estava de volta e com grandes ambições. Mussolini, retomando parte do fascismo original, encarregou Giuseppe Bottai de fundar uma nova organização do trabalho, corporativista, inspirada na Carta del Carnaro de Alceste de Ambris. A nação italiana era definida ali como um organismo moral, político e econômico vivo, plenamente realizado pelo Estado fascista. O Estado italiano anexou a economia assim como havia anexado o indivíduo e as comunidades. No entanto, os verdadeiros beneficiários foram os grandes industriais e os latifundiários.

É da natureza do Estado ter ambições. Quando isso se combina com a inclinação dos nacionalistas pela glória da conquista, a ambição torna-se voraz, e ai de quem se opuser a ela. Apesar de falar-se em uma “quarta Itália”, a verdade é que a Itália fascista, que se dizia revolucionária, não conseguiu se emancipar do sonho imperial romano e da mare nostrum. Uma ilusão perigosa que alimentava o imperialismo de uma nação ainda jovem na Europa da primeira metade do século XX. Mussolini tinha outra escolha senão fazer pactos com os grandes industriais, os gigantes do aço, da indústria automobilística, e outros? Teriam feito tudo isso apenas para retornar ao ponto de partida? Não para eliminar a plutocracia, mas apenas mudar a burocracia que a sustentava?

Acredita-se, erroneamente, que Mussolini é o fascismo e que o fascismo é Mussolini, que ele foi o único caminho italiano para o fascismo. Teríamos nós tão pouca imaginação que não conseguimos conceber outro fascismo além de uma burocracia sem alma a serviço de um Estado obeso e de uma plutocracia belicista? O fascismo italiano enfrentou inúmeras oposições internas. O Duce conseguiu criar ao redor de si um culto místico quase religioso, atraindo adoradores em sua órbita. Sua morte praticamente garantiu o fim do regime. Contra ele se levantaram as vozes dissidentes dos líderes squadristas provinciais, defensores de um outro fascismo, mais descentralizador e menos dirigista. Ao institucionalizar-se e transformar-se em Estado, o fascismo se acomodou e perdeu sua força. Todo impulso está destinado a morrer por sua própria inércia, por isso toda revolução deve ser construtiva.

O fascismo ainda hoje é uma fonte importante de inspiração para todos os pensadores que buscam uma terceira via, a pedra filosofal do nacionalismo. Referir-se a uma ideologia ou regime do passado exige uma reflexão profunda e ponderada, uma análise crítica do fenômeno, tanto em seu tempo quanto no nosso. Não é aceitável contentar-se com uma mediocridade intelectual em que ideologias passadas servem de muleta para evitar buscar soluções atuais para os problemas de hoje. O romantismo fascista mascara as falhas de um regime burocrático monopolizado pelo poder pessoal de um homem longe de ser infalível. Qualquer um que se reivindique do fascismo ou se inspire nele faria bem em estudá-lo seriamente e buscar as causas de sua morte.

O “mussolinismo” foi uma revolução fracassada. Cabe às pessoas com um pouco de discernimento tirar as lições necessárias disso. Desde a questão do cesarismo até a do federalismo, passando pela natureza do poder econômico do Estado ou o papel das massas na política, o fascismo continua questionando o contemporâneo, especialmente para o nacionalista revolucionário. Cabe a nós rejeitar o conforto intelectual. Cabe a nós não nos contentarmos em repousar sobre velhas fundações. Cabe a nós construir e surpreender.

Autor: Marc Gastoué. Retirado do Instituto Georges Valois: https://institutgeorgesvalois.fr/revolution-reaction-et-fascisme.

Traduzido por João Marcelo.

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